
Bonitão, abusado e brilhante, o ladrão de bancos Dillinger foi um dos primeiros a entrar na lista dos mais perigosos do FBI. Na visão do diretor - que cresceu no mesmo bairro de Chicago no qual o criminoso atuava -, para o povo ele foi o Robin Hood do momento.
Para viver um bandido que, na mitologia ianque, é tão grandioso quanto Al Capone, Mann convocou o bonitão e talentoso Johhny Depp. O diretor conta que queria um homem com "H" maiúsculo para viver o bandido. E consegue extrair de Depp uma interpretação tão viril quanto delicada, um dos pontos-altos do filme.
Obviamente, os tempos são outros - alguém imaginaria um filme sobre o feioso e triste Bernie Maddoff? Além do uso de HD em vez de película - com o objetivo de transportar o espectador para a cena, e evitar a sensação de se estar vendo um filme de gângster de época - o golpe de mestre de Mann foi mesmo a escalação de Johnny Depp para um papel que ele há muito devia a seus fãs.
O caso de amor com Billie Frechette, descendente de franceses e índios em um momento em que o racismo imperava no meio-oeste americano, é ilustrado de forma intensa por uma Marion Cotillard tão intensa quanto em Piaf - Um Ano ao Amor, filme que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz de 2008.
Com seu estiloso colete e chapéu - em referência ao seu personagem, e seus famosos cordões de couro nos punhos, Depp chegou atrasado para a conversa exclusiva (gravada em vídeo) com a reportagem do Terra. Muito atrasado. "Como de praxe, né? Você me desculpa?", perguntou, esbanjando charme e simpatia, antes de começarmos a gravar. Como dizer não? Em poucos minutos ele estaria falando de sua vontade de ir ao Rio de Janeiro um dia, sempre olhando nos olhos do repórter.
No filme, seu personagem, após roubar dos ricos para dar aos pobres, não sem antes rechear sua conta bancária, tenta escapar da perseguição comandada pela estrela do FBI, na época, o agente Melvin Purvis - papel do eterno Batman, Christian Bale (um sério, contido e belo inglês, que foi forjado para os papéis densos, mas que nem de longe bebe na fonte charmosa e descolada de Depp). Se conseguir fugir, Dillinger se refugiará no Brasil - talvez venha daí a referência americana de que o país tropical é uma terra onde os bandidos do mundo podem se esconder, pois passarão desapercebidos.
A elegância de Depp conduz o espectador até o apoteótico e poético - com um tributo ao grande Clark Gable - final. Inimigos Públicos retrata um tempo no qual o público podia celebrar, sem questionamentos éticos mais profundos, os bandidos românticos, tão preocupados em enriquecer quanto em não matar em vão. Santa - e às vezes bendita - ingenuidade, que não volta mais.
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